Bom... Depende!
Depende do quê?
Se você for cliente Bradesco
Prime, tiver mais de 60 anos, sócio da AMITE... Ou for um cidadão comum.
Tivemos
a semana Assad em São João da Boa Vista agora no final de julho de 2013, um
evento cultural com apresentações de artistas renomados
internacionalmente, do mais alto
gabarito. O público compareceu em grande escala, entrada franca. Parabéns aos
patrocinadores do evento, ao departamento de cultura da cidade, a todas as
pessoas envolvidas em fazerem o evento acontecer.
À
prata da casa - família Assad - quero registrar o meu muitíssimo obrigado. Músicos renomados, a respeito dos quais temos
a sorte serem sanjoanenses.
A
única observação que faço é quanto a distribuição dos ingressos em duas filas:
uma para o publico geral – platéia - e
outra para o andar de cima, camarotes. E, no último andar, a galeria, que era
preenchida na medida em que as poltronas da platéia fossem se esgotando.
Agora
vamos aos meus relatos. Você chega ao local, entra no saguão e é informado que aquela fila enorme desde às 18 horas (o evento
acontece às 20h30) é das pessoas comuns, ou seja, platéia.
No guichê há a fila para os associados da
AMITE - Associação dos Amigos do Teatro,
“terceira idade” (acima de 60 anos) e Bradesco Prime.
Ainda
não sou sócio da AMITE, não estou na
terceira idade, mas tenho uma conta no Bradesco há vinte anos, o que acabei
descobrindo na hora que não vale de muita coisa.
Peguei
a fila dos preferenciais. Lá no guichê a moça me pediu o cartão do banco,
mostrei e fiquei sabendo que não é Prime, portanto tinha que ser a fila dos
populares. Não adianta argumentar e
discutir com a atendente, além de constrangedor seria ridículo. Já basta o constrangimento de ter que sair da
fila.
Só
queria entender porquê e a pergunta que me fiz foi a seguinte: seria justo um
banco que se diz benfeitor da cultura como um dos patrocinadores de um evento
cultural agir de modo discriminatório e dividir seus clientes em pobres e
ricos, os que são Prime e os que não são?
Depois
fiquei sabendo que somos divididos em varejo e especiais, pelo critério do
banco. E que existem dois Bradescos: o varejo e o Prime.
Sem
críticas a organização, fazem o que podem, afinal nada mais justo que deixar
camarotes reservados aos patrocinadores e, se até às 20:30 não comparecerem,
liberam-se os lugares. Maravilha.
Bom,
fui ao banco no qual sou correntista conversar com a minha gerente de conta e
perguntei: porque meu cartão não é Prime? Expus a minha manifestação com
relação ao critério na fila dos ingressos pois foram muitos patrocinadores da
iniciativa privada e, com exceção do Bradesco, nenhum estava oferecendo
ingressos para seus clientes.
Recebi
a seguinte resposta: “O Banco divide os clientes em varejo e especiais. Os
Prime – os quais têm saldo médio de R$ 9000,00 (nove mil reais por mês) - e o
resto, que são clientes de “varejo”. São dois bancos.”
Tudo
bem, deixem-me ver se entendi: o povão que tem conta corrente no banco, que
deixa seu salário lá todo mês para o
Banco aplicar o saldo da conta corrente
para benéfico próprio, que é a grande maioria dos correntistas, e que aplica
seus míseros reais em poupança no banco,
paga as tarifas do banco como todo mundo
paga, recebe das aplicações da poupança 0,5% ao mês e que quando precisa de dinheiro
emprestado, estoura no cheque especial
ou cartão de crédito, paga os juros mais caros do mundo - em torno de 15%?
O
povão que ajuda a sustentar esse sistema capitalista selvagem decadente?. É você.
É o seu saldo no banco. Não se engane.
E
o Banco ou instituição financeira que quando tem uma oportunidade de mostrar ao
cidadão que esta fazendo alguma coisa em prol da cultura... Não passa de um golpe
publicitário. Genial!.
Tiro
o chapéu para os Marketeiros. Faz a mocinha do guichê repetir centenas de vezes
a mesma sentença para as pessoas que entram na fila.
Lá
na frente na boca do guichê: “Amite, terceira idade, e Bradesco Prime” !
Porque
já não colocam um cartaz na frente do guichê explicando para os da fila os
critérios? E que Prime é pra quem ganha acima de R$9000,00? Só pra poucos! Os outros correntistas não são
nada mesmo.
Aí
argumento com a gerente: - Mas isso não é discriminação em relação aos outros
clientes do banco? O evento não é para popularizar a cultura?
Resposta:
“Infelizmente as pessoas que vão nesses lugares têm nível cultural mais
elevado”. Como se fosse possível medir isso em alguma maquininha, porque então
os ingressos são de “graça”. De graça
mesmo não tem nada, pois os patrocinadores bancam os custos. E nós pagamos os
impostos e tarifas dos bancos. Pensei sem falar.
“É, a decisão de patrocinar vem da cidade de Deus,
e não da agencia local”, me diz a gerente de conta.
Acredito
que de Deus não deve ter nada lá naquela cidade, a não ser ganância, penso com
meus botões. O povão é platéia mesmo!
“Mas
fique tranqüilo vou levar sua manifestação para o meu gerente da agencia”,
tentando me consolar.
“Ok!”,
disse eu. Como sei que nada vai mudar para o cidadão comum que não tem poder de
decisão, para nós – o povão - só resta mesmo a Internet.
As
redes sociais são a voz dos tempos pós-modernos, o que os políticos mais temem
e as marcas se arrepiam. A internet que mudou o mundo e transforma idéias.
E
nela podemos compartilhar com nossos contemporâneos nossas opiniões, mesmo que
não signifiquem nada para as marcas e instituições, que querem se humanizar
para parecerem de bem com seus clientes.
Não
que devam ser apoiados, mas será que quando aparecem “vândalos” nas
manifestações de rua (ou manifestantes violentos, como dizem outros) quebrando
vidros ou pixando a estrutura física de
instituições como bancos ou agências de automóveis importados,
claramente símbolos do capitalismo selvagem – eles não estariam dizendo em uma
linguagem simbólica “Este sistema de valores que privilegia ricos, aumenta a desigualdade, a discriminação entre as
pessoas não contribui em nada com a cidadania não serve mais!”?
Fica aqui registrada a
minha manifestação.
Luis Figueiredo.
Revisão de texto e redação colaboração: Ligia Villas Boas Figueiredo.
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