É bom usar soro fisiológico para lavagem nasal?
Posso usar em bebês ?
Segue artigo da Dra. Kelly
Tem muitas pessoas usando soro fisiológico para higiene nasal, tanto em adultos como em crianças e bebês, veja a resposta esclarecedora da Dra. Kelly Marques Oliveira – Pediatra.
Formada pela Universidade de São Paulo (USP), apaixonada pela profissão e pelas crianças. Adora conversar, ler, viajar e escrever.
Criadora e autora do blog Pediatria Descomplicada, onde escreve dicas e orientações aos pais sobre o universo da saúde infantil.
Pediatra, Alergista e Consultora Internacional de Amamentação (IBCLC) – CRM 145039
Consultório Espaço Médico Descomplicado
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Sempre imaginei que fazer lavagem nasal com soro fisiológico fosse algo tão simples e sem
mistério que não precisaria de um post para explicar! Mas depois que postei um
vídeo de uma mãe realizando a lavagem nasal do seu filho e seguiram-se milhares
de dúvidas, achei que esse post seria de muita valia para vocês.
Para escrevê-lo, pedi a quem entende bem do assunto. A Dra Ligia Teede um pouco pra gente sobre a
importância da lavagem nasal, sua eficácia, e como fazer de forma segura e sem
mistérios. Leia até o final, pois também dou dicas importantes.
“A irrigação nasal com solução salina isotônica (soro
fisiológico ou cloreto de sódio a 0,9%) é um procedimento sem contra-indicações,
ou limites de idade, barato e eficaz. Mas por que devemos realizá-lo?
A lavagem nasal é um procedimento descrito há mais de 5
mil anos na medicina tradicional indiana, a Ayurveda, em que teria efeitos
positivos tanto na função respiratória, levando a um maior bem estar físico e
mental. Ainda hoje, na medicina ocidental, é amplamente incentivada para auxílio
no tratamento de diversas doenças das vias respiratórias, mas que pode gerar
várias dúvidas na hora de colocá-la em prática!
Para entender sua importância é interessante que saibamos
um pouco mais sobre o funcionamento do nariz e dos seios da face (ou seios
paranasais).
O nariz e seios paranasais são extensas superfícies
recobertas de mucosa, determinada por saliências e reentrâncias no crânio e
ossos da face que são responsáveis pelo equilíbrio da temperatura e umidade do
ar inspirado, tem função olfatória e de “filtro” para o ar inspirado (por ação
de agentes imunológicos e enzimas presentes no muco nasal), além de atuar na
ressonância da voz. Tais processos são dinâmicos e variam de acordo com
mecanismos internos e em resposta à estímulos externos. Nesse tecido
respiratório, temos cílios microscópicos, que se movimentam de forma harmoniosa
para remover continuamente o muco para fora dos seios. Isto é chamado de
Cleareance mucociliar e se repete de 2 a 3 vezes por hora!
Para que essa atividade aconteça adequadamente, é
necessário que as condições sejam boas para o funcionamento dos cílios, como
temperatura adequada (normalmente entre 18 e 33°C), pH próximo a 7, por
exemplo. Toxinas específicas, como as produzidas por bactérias (que também
podem lesar o cílio diretamente) ou inaladas, assim como uma variedade de
viroses, causam redução do batimento ciliar. O movimento dos cílios
comprometidos e/ou acúmulo de secreções mais espessas que o normal, pode
predispor a instalação de processos infecciosos.
O soro fisiológico, em diversas formas de apresentação e
aplicação, é utilizado para o tratamento clínico das rinossinusites (incluindo
as rinites), pois seus benefícios incluem a limpeza do muco nasal, diminuição
da inflamação local ( pois reduz mediadores inflamatório como prostaglandinas,
leucotrienos e histamina), das secreções purulentas, restos de células e
crostas, além de melhorar o funcionamento do sistema mucociliar como um todo. É
o tratamento mais conservador e mais simples de todos! Em pesquisas realizadas
in vitro, observou-se que a solução salina isotônica levou a menor viscosidade
do muco nasal e melhora dos movimentos dos cílios, porém seu mecanismo ainda
não foi completamente elucidado.
Em 2005, a Academy Of Allergology and Clinical Imunology
e a European Rhinological Society não recomendavam o uso da lavagem nasal com
soluções salinas por não haver estudos suficientes na área, sendo a prática
considerada “potencialmente benéfica” (nível de evidência IIb). No entanto, em
uma revisão sistemática realizada pelo renomado grupo Cochrane em 2010,
utilizando estudos controlados e randomizados, demonstrou que pacientes que realizaram a lavagem nasal tiveram uma
menor tendência a usar antibióticos, tampouco observados eventos adversos
importantes “alguns pacientes apresentaram pequeno desconforto ou sangramento
nasal, que se relacionou mais à pressão aplicada, (no caso aqui a pressão da água injetada com seringa descartável, não é
o caso do uso do Lôta, que a água entra por gravidade, prof. Luis Figueiredo) que na solução salina em si”.
Em 2012, a EPOS- European Position Paper On
Rhinosinusitis And Nasal Polyps, principal guideline utilizado para prática
clínica no assunto, mostrou nível de recomendação A no tratamento das
rinossinusites (maior nível de recomendação).
Para a lavagem
nasal em bebês e crianças pequenas podemos nos deparar com várias dúvidas e
inseguranças. Para isso, podemos usar algumas dicas:
Usando seringa
plástica esterilizada descartável. ( Muito
cuidado com a introdução do bico na narina do bebê ! ) prof. Luis Figueiredo.
– Sinta-se
confortável para fazê-lo: você pode começar com pequenos volumes de soro
fisiológico e com pouca pressão! Depois que tiver mais confiança e que a
criança estiver mais habituada, aumente!
Se quiser, também pode-se usar uma pera para aspiração
nasal após colocar o soro.
– Prefira deixar a
posição sentada ou em pé: as crianças possuem a tuba auditiva (canal que liga o
nariz até a orelha média) mais curta e horizontal, que facilita com que haja
refluxo de líquidos para esta região, principalmente se a criança estiver
deitada.
– Escolha a forma
de aplicação mais adequada para você: nos estudos, não houve diferença entre a
aplicação com sprays ou duchas!
– Segurar a respiração ou falar “Ah!” por alguns
segundos: em crianças maiores e com maior compreensão, pode-se ensinar a
prender a respiração ou falar “Ah!” durante alguns segundos. Isto diminui o
desconforto do líquido ir para a garganta. Depois é só cuspir e/ou assoar o
nariz.” ( A dificuldade é em ensinar isso para o bebê! ) prof. Luis
Figueiredo.
Perguntas e respostas da.
Dra. Kelly Oliveira
.
Quantos mL posso colocar em cada narina?
Não existe uma quantidade fixa para isso, nem por idade.
Isso varia muito se a criança está mais secretiva, se tem algum processo
infeccioso associado, ou se é somente para limpeza nasal. Comece com pequenas
quantidades, como 0,5 a 1 ml em cada narina para os bebês, e depois repita
quantas vezes forem necessárias. Conforme você adquire segurança ao fazê-lo,
pode aumentar a quantidade se houver necessidade.
No vídeo, vemos que a mãe coloca uma quantidade de 5ml.
Qual a temperatura que o soro precisa estar?
O ideal é o soro estar em temperatura ambiente ou morno, nunca gelado. Dessa forma,
mesmo a secreção mais espessa consegue ser eliminada.
Qual a posição do
bebê quando fizer a lavagem?
O bebê ou criança deve estar sentado ou em pé, com a
cabeça levemente reclinada para frente.
A boca do bebê precisa ficar aberta ou fechada?
O ideal é que a boca do bebê esteja levemente aberta.
Para adulto, que conseguem deglutir o soro, é indiferente.
A secreção precisa sair pela outra narina?
Não, não precisa! A secreção pode sair ou não, a depender
da quantidade de soro colocada, a quantidade de secreção, e o jato. O mais
comum é sair um pouco de soro pela
própria narina, o soro sair pela boca ou a criança engolir o soro com a
secreção, e aí saí pelas fezes né…
O bebê pode engasgar? Pode dar otite? Perfurar o ouvido?
O catarro ir pro pulmão?
Quando feita de forma segura, com o bebê sentado, com a
cabeça reclinada para frente, o soro com a secreção sairá pela própria narina
ou será deglutido. O nariz, ouvido e garganta estão interligados, portanto a
secreção acumulada já está lá, se há um processo infeccioso. O soro irá
mobilizar essa secreção. A lavagem com soro não “causa” otite, muito menos
pneumonia, nem é capaz de perfurar o ouvido! O processo infeccioso instalado,
sim.
Preciso fazer todo dia?
O nariz está em constante contato com o meio externo. A
higiene nasal é interessante ser feita, mas não necessariamente todo dia, nem
precisa ser a seringa. Você pode usar sprays, jato contínuo, conta gotas. Se há
mais secreção, provavelmente precisará aumentar a frequência e o volume do soro
😉
Consideração importante!
Obviamente o procedimento deve ser feito da forma
correta. Se você tem medo de fazer, pergunte ao seu médico como deve fazer,
peça para demonstrar! De forma nenhuma a intenção é substituir uma consulta
médica, ok?
Comentário de usuária de soro fisiológico para limpeza
nasal.
Daniela Ferreira
01/06/2017 Faço isso há mais ou menos 1 ano em mim e no
meu filho, (uso soro fisiológico para lavar as narinas), mas fui numa otorrino pois estou com sinusite
crónica é a médica me disse que fazer isso é péssimo pois assim que você abre o soro ele já contaminou, comparou a
injeção, que quando aberta não pode ser
guardada para ser reutilizada depois.
Ficamos agradecidos, que cada um faça sua análise.
Prof. Luis Figueiredo. – Quiropraxista – Terapeuta
Holístico.
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